terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A Internet e a Indústria Cultural

Debora de Castro da Rocha

Seria a internet responsável pelo início do fim da atual Indústria Cultural?
Atualmente, a internet está sendo responsável por interferir diretamente nas escolhas do público sobre o que ouvir, o que assitir. Graças à sites como “My Space” ou “Deviant Art”, hoje qualquer um, que produza qualquer artigo musical ou visual, possui uma vitrine poderosa, e de longo alcance. Os novos artistas podem se tornar conhecidos mundialmente sem intermédio de grandes gravadoras ou galerias renomadas, e são acessados quantas vezes o internauta quiser.


O que faz desses acontecimentos serem tão relevantes para a história da estética, filosofia da arte e da cultura, é que pela primeira vez é possível buscar alternativas as o que nos é oferecido em termos de arte, dentro do próprio sistema capitalista. De acordo com o que foi observado por Walter Benjamin, filósofo da Escola de Frankfurt, em seu artigo chamado “A Pequena História da Fotografia”, em séculos passados, as obras de arte eram privilégio daqueles que a possuíam. Por serem únicas, elas eram revertidas com o que o autor chamou de “aura” da obra de arte, isto é, uma espécie invólucro que cria na obra de arte a “aparência única de uma distância, por muito perto que se possa estar”. Com a evolução técnica, foi possível aumentar a reprodução de artigos culturais em série, possibilitado assim, a morte da “aura” nas obras de arte. Se por um lado a obra de arte perde seu caráter único, ela acaba dando espaço a uma nova modalidade de produção artística que passa a ser financiada e produzida por uma elite intelectual voltada para o consumo das massas. Isto é, em uma sociedade capitalista, a elite dominante financeiramente e culturalmente, que é formada pelos detentores dos meios de produção, reprodução e difusão dos artigos artísticos, monopoliza todas as técnicas e, como conseqüência, direciona, dita e dá valor de mercado ao que todos devem consumir no momento em arte.
Como conseqüência foi criada gerações de pessoas que são incapazes de decidirem por si, de fazer julgamentos desses artigos culturais, e se tornam repetidores daquilo que vêem na televisão ou escutam no rádio. Em outras palavras: esta é Indústria Cultural, conceito criado por Theodor Adorno e Max Horkeimer, também da Escola de Frankfurt. A Indústria Cultural passa a definir e dar à grande massa o que ela deve consumir em termos de cultura; e a massa por sua vez terá como parâmetro estético e artístico tudo que provém dos meios conhecidos de comunicação de massa, que são aqueles a que todos tem acesso. O reflexo do poder desta indústria é visto em todas as plataformas artísticas, como música, cinema, e artes visuais em geral.
A grande ameaça que a internet acaba por se transformar permite criar aberturas neste jogo da cultura massificada. Graças à essas aberturas, as massas podem ter contato com expressões artísticas mais complexas, que antes eram reservadas às classes dominantes, além de conhecerem novos artistas proporcionando aproximações que antes lhes eram negadas. Entretanto, com esta nova configuração, as grandes empresas “detentoras da cultura” tentam criar mecanismos para frear e manter tudo sob controle. Por exemplo, o rumo das negociações entre grandes nomes da internet, como a Yahoo!, apontam para que grandes empresas do ramo da música, como a gigante Sony BMG, disponibilize vídeos de artistas de seu cast para qualquer site ou blog em troca de alguns trocados vindos por meio de anúncios. Podemos cogitar essa possibilidade, muitas outras porque todos esses sites estão dentro da lógica capitalista, pois tem como alicerce empresas multinacionais que ganham milhões no mundo inteiro. Essas mesmas empresas que colocam os sites no ar podem passar a controlar tudo o que é postado, da noite para o dia. Outra possibilidade seria a propaganda maciça via outros meios de comunicação que possuem certa “credibilidade”, desmotivando a visitação de certos sites com os argumentos diversos.

Das novas formas de criação e divulgação de arte, até as formas de resistência encontrados pela Indústria para evitar a proliferação a da verdadeira diversidade – que nada tem a ver com a “diversidade” que é pregada atualmente – a internet continua a surpreender e a oferecer novas possibilidades a todo momento. Se essas novas possibilidades servirão para realmente integrar o mundo pela rede, isso é outra discussão, que possui outros vértices (como por exemplo, a questão do software livre). De qualquer maneira, podemos começar o debate, e proponho algumas questões como: o que é arte na contemporaneidade? A arte deve ter valor financeiro? A cultura é realmente para todos?

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